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quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Colóquio passou!

Acabou! Finalmente passou. Apresentei meu trabalho no colóquio do mestrado e sinceramente, acredito ter sido uma boa apresentação.
O sucesso do Colóquio como um todo foi incontestável.
Agradeço aos colegas e professores pelo apoio e participação. Vocês são ótimos!
Agora, vamos aos artigos para fechar definitivamente as disciplinas.
Respirando fundo e seguindo em frente.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Colóquio de Tecnologias

Amanhã apresentarei o Colóquio sobre tecnologias na disciplina obrigatória do mestrado.
Foram 2 meses de preparação dura para chegar a este momento.
Serão 120 minutos de apresentação que preparei com slides, vídeos, músicas (inéditas, compostas por mim) para tentar ilustrar o pensamento e a ideologia de Heidegger e Cupani.
Aguardem relato do resultado e as fotos do processo.
Acredito estar preparado, mas ainda assim rola um stress. hehehe
Bom, lá vou eu!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Síntese do artigo: Estado da arte da formação de professores no Brasil

Síntese do artigo: Estado da arte da formação de professores no Brasil

Marli André, Regina H. S. Carvalho, Janete M. Carvalho e Iria Brzezinski

Por Djalma Gonçalves Pereira

Este artigo procura promover uma síntese da integrativa do conhecimento sobre o tema da formação do professor com base em uma análise das dissertações e teses dos programas de pós-graduação em educação do país no período de 90 a 96, também dos artigos publicados em 10 periódicos da área da educação no período de 90 a 97 e pesquisas apresentadas no grupo de trabalho formação de professores da Anped, no período de 92 a 98.
Dissertações e teses
Verificou-se que a produção discente quase dobrou no período avaliado, sendo que os trabalhos sobre formação de professores não acompanhou esse crescimento, aumentando apenas insignificantes 2%.
Nessa avaliação o tema formação inicial é o mais citado, abrnagendo em sua abordagem a avaliação do curso de formação e o professor com seus métodos, práticas e representações.
Estudos sobre formação continuada possuem focos variados com diferentes níveis de ensino, contextos diversificados, com uma abordagem rica para essa modalidade de formação.
Percebe-se também que a temática da identidade e profissionalização docent, foi pouco explorada, possuindo apenas 10% de presença nas dissertações e teses. Porém percebe-se o aumento significativo, principalmente nos últimos anos temas como a busca da identidade profissional e concepções do professor sobre a profissão.
Timidamente nos últimos anos aparecem temas como condições de trabalhos do professor, movimentos de sindicalização e organização profissional.
Em um país como o Brasil é surpresa como são raros os que abordam a questão dos saberes e práticas culturais, gênero e raça.
São muitos os estudos de caso, sendo que em sua maioria são estudos pontuais abordando apenas um aspecto da formação docente e o mesmo ainda possui caráter particular, estes são seguidos de perto pelos relatos de experiência.
Estudos teóricos, pesquisas históricas, pesquisa-ação e análise prática pedagógica tem menos ênfase nos trabalhos mas ainda assim possuem quantidade significativa nos trabalhos selecionados, mas raros mesmos são os estudos do tipo survey, pesquisa experimental, estudos de validação de material e estudos longitudinais.
Revelou-se com este trabalho que a maioria dos estudos está concentrado na formação inicial com a procura da avaliação dos cursos de formação docente, sendo entre eles o curso normal o mais estudado, as licenciaturas também são objeto deste estudo, sendo o curso de pedagogia o menos procurado. Na formação inicial, temas emergentes tomam fôlego com temas transversais como a educação ambiental, educação e saúde e drogas.
É ponto de destaque os estudos sobre formação continuada, não por sua presença numérica, mas por sua abrangência de conteúdos investigados que atendem a diferentes níveis de ensino, contextos, meios e materiais.
Mais um dos temas emergentes é a identidade profissional docente que promove a busca da identidade do professor frente a sua relação com as práticas culturais, carreira, organização profissional e sindical, além de outras questões associadas.
A pesquisa ainda detectou que grande parte dos conteúdos abordados nas pesquisas de mestrado e doutorado concentra-se em análises pontuais baseadas em coleta de dados em meios locais com grupos restritos, deixando margem para questionamentos quanto a abrangência de seus resultados.

Artigos e periódicos
O periódico, Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas foi identificado como o que mais concentra artigos da área, com praticamente um quarto dos artigos verificados no levantamento deste estudo.
Neste levantamento percebeu-se que a distribuição dos temas foi bem mais equilibrada que nas pesquisas dos discentes, o qual se concentrou em sua maioria na formação inicial sendo o tema identidade e profissionalização docente como o mais freqüente nas produções dos artigos frente a seu último lugar nas produções discentes.
Nos artigos o professor é apresentado como centro do processo de formação continuada, atuante como sujeito individual e coletivo do saber docente e participante da pesquisa de sua própria prática.
Na categoria de estudos sobre a formação inicial precebe-se uma diferença de prioridades onde os discentes priorizam a escola normal, coexistindo em comum o esquecimento dos cursos de pedagogia.
Nos textos referentes a prática do professor os de maneira geral os discursos carregam consigo uma ideologia e uma tendência política que define concepções dessas práticas, contrariando a tendência averiguada nas teses e dissertações onde há uma preocupação específica com conteúdos distintos como natureza tecno-pedagógica e deixando de lado as políticas e questões mais abrangentes.

GT Formação de Professores da Anped
Nos trabalhos pesquisados na Anped houve uma continuidade na tendência encontrada nos trabalhos dos discentes quanto a presença em maior número de pesquisas relacionadas a formação inicial. É bom lembrar que nos periódicos esse tipo de formação não obteve destaque.
Nesse sentido é ponto de distinção entre os trabalhos aqui apresentados com relação aos trabalhos de pós-graduação a ênfase nas licenciaturas frente o destaque aos cursos de normal.
Os trabalhos que tratam das licenciaturas discutem a formação específica e a formação pedagógica, relatam experiências curriculares, tratam da interdisciplinaridade no programa de formação docente, falam da articulação entre ensino e pesquisa, e dentre outras coisas levantam a opinião dos alunos das licenciaturas.
Os poucos trabalhos que tratam dos cursos de pedagogia tratam dos movimentos de reformulação do curso no país, apresentam deficiências, falta de articulação entre docente e formador, além de apresentar o peso das representações familiares na relação aluno-professor.
A formação continuada é concebida como formação em serviço e tratada como sendo uma parte importante na formação para atuação do professor.
Os trabalho na categoria revisão de literatura promovem um balanço do conhecimento, baseado nas análises comparativas de vários trabalhos de uma dada temática.

Conclusão
A conclusão em que se pode chegar é a de que os trabalhos de pesquisa pesquisados nos mostram um quadro de afunilamento das pesquisas para segmentos distintos da educação cujo não contemplam a realidade e as necessidades da educação no país.
Mesmo com o advento da invasão tecnológica nas escolas o papel das tecnologias na educação não aparece de forma relevante nos estudos apresentados, bem como não existem trabalhos que estudem as diferenças e diversidades culturais.
Emergi desta pesquisa a confirmação de que a teoria pedagógica tem sido distorcida e pouco estudada ou refletida. Pensar a pedagogia verdadeiramente deixando de lado os discursos de teoria junto a prática é o primeiro passo para uma reformulação da educação como um todo. As disciplinas específicas vem tomando cada vez mais o espaço da pedagogia que comprovadamente tem sido deixada de lado em todos os níveis de pesquisa.
Os trabalhos se mostram pouco abrangentes no sentido de referencias a práticas e políticas educacionais.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Análise das tecnologias e suas implicações de dependência para o homem por intermédio das reflexões de Heidegger e Borgmann

Espero que este artigo ainda incompleto leve-os ao mesmo prazer que tive de conhecer a concepção de homem e mundo dos autores pesquisados.
Boa leitura!

Análise das tecnologias e suas implicações de dependência para o homem por intermédio das reflexões de Heidegger e Borgmann


Djalma Gonçalves Pereira
(Mestrando – Mestrado em Educação UNIUBE)


Resumo: O presente estudo analisa as tecnologias e suas implicações de dependência para o homem, por intermédio das reflexões de Martin Heidegger em seu discurso “Serenidade” associadas ao enfoque fenomenológico de Albert Borgmann. Reconhecendo para isso a tecnologia como dimensão da vida humana e não apenas um evento histórico.

Palavras-chave: tecnologia, pensamento, Heidegger, Borgmann


Introdução
Serenidade é o resultado do discurso comemorativo de Martins Heidegger em 1955 em comemoração ao aniversário de 175 anos do compositor alemão Conradin Kreutzar. Em seu discurso Heidegger destaca a importância do pensamento, inclusive nas comemorações, pois afirma que sem o pensamento não há comemoração verdadeira, porque pensar é meditar.
Para Heidegger as coisas que fazem parte de uma comemoração não tem sentido sem a meditação sobre a mesma e tudo que diz respeito a ela.
Como nem sempre as comemorações nos levam a uma meditação, Heidegger conclui que o motivo é a pobreza de pensamento do homem moderno, pois tornou-se pobre-em-pensamento.
Neste mesmo contexto utilizaremos a abordagem fenomenológica de Borgmann para trazer a luz da atualidade o pensamento de Heidegger, onde Borgmann defende que a tecnologia ampliou a distância entre ricos e pobres, que a televisão tornou as crianças passivas e que a falta de compromisso do homem com as tecnologias evidenciam um uso descompromissado das coisas.
As afirmações de Borgmann e suas alegações nos fazem distinguir como a falta do pensamento meditativo atingiu de forma negativa a vida e o futuro do próprio homem.


O pensamento
Em seu discurso, Heidegger reflete sobre a essência da técnica moderna e mostra a necessidade de recuperar o que ele define como pensamento meditativo. Devemos destacar que esse posicionamento de Heidegger não nega a técnica, mas nos leva a repensar a relação do ser humano com a ela.
Ele ainda destaca a necessidade de nos mantermos como seres pensantes, pois é essa a característica que define o homem e o faz ser diferente dos demais seres, ser um ser pensante.
A pobreza de pensamento que tomou o homem se caracteriza pela indiferença ou mesmo desinteresse pela meditação. O homem não quer ter o trabalho de pensar.
Heidegger nos convida a refletir sobre a essência do que classificamos como pensar, alerta-nos para que não tenhamos ilusões, porque acontece a todos nós sermos pobres em pensamentos mesmo aos que fazem do ofício de pensar dever profissional.
Temos a carência de pensamentos como uma constante que se apresenta por todo o lado no mundo de hoje, pois, as coisas são incentivadas a serem aprendidas da maneira mais rápida e mais barata, para em seguida ser esquecida. Fato esse que nos torna cada vez mais pobres em pensamentos.
Heidegger destaca que a dimensão pensante, meditativa do homem é uma característica que trás consigo, sendo assim, mesmo que estejamos privados de pensar não renunciamos ao poder que temos de fazê-lo. Pensar é inato ao homem.
O homem contemporâneo foge do pensamento, ele não quer sequer reconhecer a fuga, muito pelo contrário, afirma o oposto, apontando sempre em sua absolvição tudo o que o conhecimento científico tem produzido. Isso se justifica através da definição de Heidegger em que há um tipo de pensamento que se tornou indispensável ao homem e o mesmo possui um caráter particular, que é o pensamento calculador, que conta e calcula, mas este cálculo verifica possibilidades novas, cada vez mais ricas em perspectivas e ao mesmo tempo mais econômicas em todos os sentidos da vida.
Esse pensamento calculador não nos deixa prazo e leva-nos de uma possibilidade a outra rapidamente, ele não busca o sentido, ele apenas antecipa, não se espanta e não medita.
Sendo assim, podemos classificar dois tipos de pensamento definidos por Heidegger, ambos legítimos, são eles: O pensamento calculador e o pensamento meditativo.
O pensamento que meditativo é aquele que Heidegger tem em mente quando afirma que o homem está fugindo permanentemente do pensamento.
Ao nos fazer refletir a respeito do pensamento trazendo a tona indagações que nos levam a questionar o pensamento meditativo, em um primeiro momento podemos até acreditar que este, estará distante da realidade da vida, pois ele parece não colaborar com nada nas realizações de ordem prática do cotidiano, ou ainda pode ser entendido como elevado demais para as pessoas comuns, mas na verdade se considerarmos o processo do pensamento meditativo e o processo do pensamento calculador perceberemos que o meditativo depende de um esforço para acontecer, comparado ao pensamento calculador que não requer esforço significativo, apenas surge como ferramenta de resolução de problemas.
Heidegger nos responde então que qualquer um pode, é claro, dentro de suas limitações, meditar, pois o homem é um ser pensante, isto é, meditativo e não é necessário que a meditação eleve-o até regiões superiores, basta que nos leve a refletir sobre aquilo que nos é próximo.
Por isso, ambos os pensamentos são importantes, o pensamento que calcula e o pensamento que medida, pois apesar do homem supervalorizar o pensamento que calcula este não é o único modo que o homem possui para lidar com as coisas, com os outros e principalmente consigo mesmo.
O pensamento que calcula é o que rege a tecnologia, pois é centrado na própria razão humana, trabalha mediante cálculos e previsões, convertendo o mundo em um objeto conformado com resultados eficazes que facilitam a vida, permitindo ultrapassar barreiras. E é nessa eficácia que está o risco da permanência de apenas um tipo de pensamento, admitindo um único modo de existir, mas somente quando o pensamento que medita, meditar no cerne da técnica, fazendo-nos repensar a própria técnica, levando-nos de fato a essência da técnica que vigora a nossa volta, trilharemos o caminho da serenidade.
Heidegger ainda afirma que a técnica não é um instrumento neutro quando usada pelo homem, pois como ela pode ser objeto de diversos tipos de uso, poderá também ser usada para o bem ou para o mal, deixando-nos a responsabilidade pela sua aplicação.
Nesse sentido onde a tecnologia se apresenta como modo de vida e desafio de escolhas para o homem, Borgmann descreve este momento como sendo a tecnologia um modo de vida próprio da modernidade, sendo a tecnologia para o homem um meio de lidar com o mundo, sendo assim um paradigma limitador da existência que está intrínseco a vida quotidiana, passando pelo próprio homem despercebidamente.
Tendo essa percepção, Heidegger afirma que não podemos encarar a técnica como um fato acidental, um artifício sem intencionalidades, pois a técnica consiste em um resultado lógico, que é consequência da evolução do homem. Evolução essa que tem como preço o esquecimento do ser.
O homem se deixou envolver pelas coisas tecnológicas, transformando a realidade em objeto de dominação e exploração. Com essa postura o homem assume uma fé na técnica como a maneira de dominar todas as coisas, ampliando o que Heidegger classifica como o esquecimento do ser.
Como papel relevante para o esquecimento do ser está a disponibilidade das tecnologias juntamente com a sua condição de trazer alívio. Mediante a sua função um dispositivo tecnológico tende a promover o alívio de um esforço ou a libertação de uma dificuldade. A disponibilidade de um produto significa que o mesmo pode ser consumido de maneira instantânea e normalmente, segura e fácil, basta pensarmos no alívio imediato de acender uma lâmpada em um local escuro, ou do prazer de ouvir uma música ao pressionar um simples botão, ou mesmo o acesso as mais diversas informações através do clique em um mouse. Todos estes aparelhos tem como característica estar sempre a mão, Borgmann se refere a esta disponibilidade da seguinte forma:
...os microcomputadores estão sendo usados cada vez mais porque vão se tornando amigáveis, isto é, fáceis de operar e compreender. Mas esse caráter amigável é precisamente o sinal do quanto se tem tornado grande o hiato entre a função acessível a todos e a maquinaria conhecida por quase ninguém... (Borgmann, 1984, p. 47)
Carregado desses conhecimentos amigáveis e atraentes, o homem segue com a conquista da natureza, transformando-a e destruindo-a, colocando em risco o futuro do próprio homem, isso porque ele esqueceu do pensamento que medita, o pensamento calculado não o deixa assumir que jamais o homem terá total domínio da natureza.
Esse esquecimento determina segundo o Heidegger um acontecimento que atinge não só o pensamento do homem, mas acaba por determinar todo o modo de ser do homem no mundo que é o abandono do enraizamento que devemos constituir a partir do pensamento do homem, usando esse ponto como ponto de partida.
Voltando a ideia de Borgmann onde os produtos e seu consumo constituem uma meta declarada de empreendimento tecnológico, proposta no início da Modernidade que traz consigo a expectativa de o homem dominar a natureza e dela extrair a libertação da fome, da insegurança, da dor, da labuta e assim enriquecer sua vida física e culturalmente. Percebe-se que não se levou em consideração o molde dado a tecnologia pelos países industrialmente desenvolvidos, onde a tecnologia por si mesma não pode fornecer rumo e muito menos explicar a tecnologia como modo de vida, pois esse modo de vida implica em uma tendência de reduzir toda e qualquer problema em uma questão de relação entre meios e fins.
Esta relação deixou as pessoas sem tem tempo para meditar. Estando cada dia mais apressados, queremos sempre chegar primeiro e conquistar as novidades trazidas pelas tecnologias, conquista estas que se vão com a mesma velocidade que são trazidas, pois nossa necessidade por resultados nos cega para o passado e o próprio presente, nos levando a um ciclo de descarte, pois não conquistamos nossos objetivos, nos apropriamos dele e logo seguimos em busca de outros, abandonando aquilo que já possuímos.
É uma relação de apropriação das coisas, inclusive em nossas relações com o outro, tornando-nos assim, pessoas superficiais de relações superficiais.
O pensamento que medita é descartado, pois é antes de tudo um repousar em si, exige paciência e tempo. O homem quer rapidez e resultados, nos deixando seduzir pelo pensamento que calcula, assim, sendo dominado por ele e consequentemente perdendo as próprias raízes.
Perdendo suas raízes o homem perde todas suas referências e como resultado acaba por perder a si mesmo.


Técnica e tecnologia
Heidegger compreende por tecnologia a herança da técnica recebida da tradição ocidental que precisa ser conquistada a cada dia, pois ela nos aprisiona e liberta. Aprisiona-nos quando nos apropriamos dela aceitando todas suas imposições culturais, sociais e de valores sem meditar a respeito. Nos liberta quando nos colocamos a pensar sobre sua essência, não permitindo que nossas raízes sejam desconsideradas.
A essência da tecnologia é pensar a essência do próprio homem. Heidegger nos fala que o poder inserido no seio da técnica contemporânea determina a relação do homem com aquilo que ele é.
Essa reflexão nos leva a perceber que o problema não é a técnica por ela mesma, mas a relação que o homem tem com a técnica. O perigo depende do uso que se faz da técnica. É nesta relação com o mundo que o pensamento meditativo se mostra diferente.
Talvez seja a necessidade de contexto para o uso dos dispositivos tecnológicos em que podem ser usados para diversos fins e combinados entre si sem muitas restrições que tornem a nossa relação com os mesmos, descompromissadas, sem a necessidade de pensamento para utilização. Este fator é fortemente estimulado pelas propagandas que divulgam as combinações mais inesperadas para os dispositivos tecnológicos acentuando seu caráter de superficialidade.
Nesse sentido de manipulação do pensamento, percebe-se em Heidegger a inquietante preocupação quanto a não haver tempo antes que nosso mundo se torne um mundo completamente técnico, de que o homem não esteja preparado para essa transformação, que só é possível pelos meios do pensamento meditativo.
A filosofia é o recurso necessário que o homem precisa para superar a falta de preparo para esta transformação do pensamento, pois a filosofia como pensamento hermenêutico, deverá ser capaz de transformar isso, pois ela se caracteriza segundo Heidegger, como dimensão originária do existir.
Ao observarmos este ponto de vista de Heidgger talvez possa parecer que ele é um opositor da técnica e as tecnologias por ela geradas, mas acredito que ele não nega a técnica, seu discurso mostra que somos dependentes dos objetos produzidos por ela, porém ao pensar a essência de nós mesmos impedimos que a técnica ou as tecnologias nos aprisione. Sua postura nos remete a questão da preocupação de nos tornarmos escravos da técnica.
Segundo Heidegger é preciso pensar a técnica a partir da sua essência. Dessa forma saberemos dizer sim e não ao mundo.
Essa definição de sim e não, não significa um relacionamento ambíguo, mas ao contrário, significa desenvolver um relacionamento pacífico onde a serenidade consiste na admissão da técnica, deixando os objetos tecnológicos gerados por ela repousarem na própria técnica a sua condição que não é de maneira alguma absoluta.
Dizer sim e dizer não aos objetos tecnológicos é a definição de serenidade, pois Heidegger acredita que há no ser humano uma dimensão de conflito, pois, o homem não é só espontaneidade, também é negatividade. Embora o homem em seu íntimo se volte para o nada, ele também é um ser que exige sentido nas coisas, pois mesmo com a negatividade, o homem é originariamente sentido.
Aplicar a serenidade para com as coisas é enxergar não apenas pela técnica, mas perceber o mistério que envolver todas as nossas relações cotidianas.
O sentido do mundo técnico oculta-se. Porém, se atentarmos agora, particular e constantemente, que em todo o mundo técnico deparamos com um sentido oculto, então encotramo-nos imediatamente na esfera do que se oculta de nós e se oculta precisamente ao vir ao nosso encontro. O que, deste modo se mostra e simultaneamente se retira é o traço fundamental daquilo a que chamamos mistério. Ibid., p25
A modernidade descobriu com Descartes que o homem como exigência de sentido descobriu o "cogito" (o sujeito é uma necessidade do conhecimento), mas esqueceu que é também sentido.
Por possuir o homem, esta exigência incondicional de sentido, Heidegger formula que a base do sentido excede o próprio homem, onde o homem é definido como pré-compreensão do sentido, o que constitui a sua essência é a exigência de sentido, a esperança, o desejo de ser na falta do próprio ser, e Heidegger toma consciência desta experiência de contraste, na dialética do existir.
Heidegger não vê a orientação para o sentido como coincidência, para ele apesar do homem ser orientação para o sentido, ele ainda não é, está a ser, ele é excesso que não coincide e é muito mais do que é.
Para Heidegger, o sentido do mundo técnico é oculto, deixando-se entrever e ao mesmo tempo escondendo-se, que o dá a característica de um segredo ou mistério.
Mistério ou segredo é tudo que está oculto, por isso, não pode ser concebido nem compreendido, e o mundo técnico é marcado pelo mistério, permanecendo oculto para cada um de nós.
Heidegger acredita que o homem não é capaz de desvendar o mistério que envolve a técnica sem o pensamento meditativo, sem ele, podemos dizer quem foi o cientista que fez uma dada descoberta, mas nunca poderemos explicar os motivos que levaram o cientista a fazê-la.
O mistério sempre oculto só se revela a medida que por meio da serenidade desvelarmos o ser que está oculto por detrás da técnica. Dizer sim e não a técnica é estar junto a técnica, mas não dentro dela. A verdade não é a adequação, mas o desvelamento! Desvalamento esse onde Heidegger fundamenta sua ideia de que a verdade é a revelação?
O fato é que o dasein (ser-aí ou ser-no-mundo) nos guia a revelação.
O dasein começa por existir no mundo segundo um modelo relacional, segundo o modelo da disponibilidade. A verdade como revelação tem como fundamento a verdade como pressuposição. Não existe verdade em si, mas verdade para o homem, porque ele acredita nela.
Refletindo sobre a técnica e sua dimensão como dimensão como único meio de ver o mundo para o homem, devemos considerar que quando a técnica é tida como única, todo o segredo é confundido, mas se virmos que a técnica tem também uma dimensão que se oculta por detrás de si própria, estaremos no caminho de uma melhor relação com ela. Sendo assim, trata-se da restauração a dimensão de segredo/mistério a verdade.
Esse desvelamento levará o homem moderno a compreender que o consumo universal de produtos tecnológicos e o sonho da vida menos penosa e mais rica transformou-se em uma cultura que visa apenas o lazer derivado do consumo, resultando em uma vida sem rumo, imediatista e impositiva.
Somente com o restaurar da verdade que vai ser o objeto do pensamento meditativo. Só se pode restaurar a verdade quando o homem tomar consciência da sua historicidade. O que levanta a questão da historicidade é uma questão muita mais crucial e mais significativa, que é a questão ontológica onde o ser enquanto ser possuidor de sua natureza pensante, assumir sua dimensão meditativa do pensamento e assim contribuir para a revelação da verdade.
Ao homem o sentido das coisas, do mundo e de si próprio escapam, o ser é agora a questão fundamental de tudo, e a questão fundamental do homem é o confronto com a negação a técnica.
Experimentar a historicidade como negação as coisas que nos dominam por vontade própria, leva-nos ao confronto do homem com aquilo que ele não é. Pois o homem só é, na relação que estabelece com as coisas que o rodeia.
Heidegger afirma que para compreender a historicidade é preciso alcançar a questão do existir como dasein, pois é do dasein que se parte para chegar à questão do seu sentido e da sua historicidade. Daí a urgência em recuperarmos a dimensão meditativa do pensamento!
Sendo assim, o grande perigo que nos rodeia e ameaça é a falta de pensamentos meditativos, gerando a automatização do homem. Somos seres finitos e limitados, mas ao mesmo tempo, abertos ao que nos transcende, pois é esta a condição finita do homem. É preciso compreender que nossa relação com a técnica e as tecnologias são da mesma forma finita e por isso não devemos ficar presos a eles.


O homem como ser pensante
O homem precisa deixar de rejeitar aquilo que possui de mais próprio, que é o fato de ser um ser pensante. É preciso salvar essa essência do homem. É preciso manter acordado o pensamento.
O homem não consegue meditar porque ele não percebe que ele é a medida da técnica, que o projeto de ser do homem é anterior a toda e qualquer técnica. A experiência da serenidade só poderá ser percebida quando o homem aprender a dizer sim e não à técnica e a tecnologia.
A modernidade esqueceu o ser e a realidade. Uma coisa é viver absorvido pela técnica, outra coisa é ler o mundo, habitar num mundo lendo a outra dimensão do sentido literal ou técnico que essa dimensão tem. Em um sentido Haideggeriano, viver velado!
O desvelamento por meio da meditação trará a tona o ser, que ao despertar emergirá juntamente com a identidade da alma diante das coisas, e assim, o espírito se abrirá ao outro, nos permitindo alcançar um novo caminho, uma nova terra, um novo solo.
Nesse sentido poderá o homem criar obras perduráveis que serão a base do novo.
Nesse contexto podemos compreender como análogas a compreensão dos pensamentos calculado e meditativo de Heidegger com o conceito de coisas e práticas focais de Borgmann, onde na afirmação de Borgmann que o universo humano perde cada vez mais coisas focais para passar a ser constituído apenas por dispositivos que se produzem, usam ou consomem.
Essa diferença fica é esclarecida por Borgmann da seguinte forma:
Quando olhamos a tecnologicamente para uma lareira pré-tecnológica, separamos da plenitude dos seus traços a função de fornecer calor como a única e finalmente significativa. Todos os outros traços são considerados então como parte da maquinaria e, estando sujeito à lei da eficiência, tornam-se dependentes e indefinidamente mutáveis. A visão tecnológica de uma comida revela um agregado de saberes, texturas e características nutritivas. Só elas retêm significação estável[...] Analogamente, quando olhamos para uma árvore vemos certa quantidade de madeira ou fibra de celulose; os espinhos, os ramos, a cortiça e as raízes são resíduos. Uma rocha é cinco por cento de metal e o resto é lixo. Um animal é visto como uma máquina que produz tanto de carne. Qualquer uma das suas funções que não serve para esse propósito é indiferente ou incômoda (Borgmann, 1984, p;192)
Sendo assim, podemos comparar a visão técnica e científica de Borgmann a qual enxerga em uma árvore madeira para a produção, como o uso do pensamento calculador. Analogamente, para ver a árvore como meio de equilíbrio ecológico, sombra e frutos frescos e saborosos seria necessário o pensamento meditativo, onde o pensar o ser encontra a verdade das coisas e sua relação real com o homem.


Conclusão
A proposta de Heidegger em 55 do século passado se mantém ainda atual e ainda mais real, pois o homem se embrenhou pelo caminho do aperfeiçoamento constante a tecnologia, promovendo o determinismo cabal dos processos produtivos e das relações humanas via artefatos tecnológicos.
A aceleração das informações via tecnologia impediu o homem de pensar a respeito delas, sendo apenas um receptor e propagador das mesmas, não havendo tempo para meditar sobre seus impactos, consequências ou verdades. Aliás, todo esse acesso as informações velaram ainda mais a verdade, aumentando o mistério da técnica e das tecnologias junto ao homem.
Nos encontramos em um mundo onde aprendemos que para ser é preciso ter, desviando-nos co caminho real do ser através da exploração constante do pensamento calculador.
Nesse sentido as reflexões de Heidegger acenam para um reencontro do homem com o ser e com a verdade. É preciso reconhecer a necessidade do desvelamento do ser para encontrarmos a verdade e a partir dela recuperar o pensamento meditativo que nos fornecerá condições de encontrar a serenidade com a utilização do sim e do não nas relações com a técnica e as tecnologias. Ficando livres da prisão que é imposta pela aceitação da tecnologia, desnuda do pensar meditativo.
Borgmann também reconhece que é possível conceber uma utilização da tecnologia e dos seus aperfeiçoamentos, na medida em que permita e favoreça qualquer prática focal que tenhamos escolhido. Vista assim, a tecnologia realça o caráter de tais práticas, em vez de soterrá-las, como acontece quando se vive em cumplicidade com ela.
Nós, os seres humanos nunca estamos prontos e acabados, nesse, na medida em que descobrirmos novas tecnologias, teremos a oportunidade de nos refazermos e nos recriarmos junto com elas através da liberdade do ser frente ao pensamento meditativo.


Referências bibliográficas:
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. 2ªed. Petrópolis: Vozes, 2002.
_____________Serenidade, 1º edição. Rio de Janeiro: Instituto Piaget 2001.
RAFAEL, Maria Aparecida. A questão da tecnologia no pensamento de Martin Heidegger ou uma possível leitura da conferência “serenidade”(1959). “Existência e Arte” – Revista Eletrônica do grupo PET – Ciências Humanas, Estética e Arte da Universidade Federal de São João Del-Rei – Ano III – Número III – janeiro a dezembro de 2007
CUPANI, Alberto. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. ScientiAEStudia, São Paulo, v.2, n.4, p.493-518, 2004.