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sexta-feira, 29 de abril de 2011

SÍNTESE DO TEXTO “O CAMPO TEÓRICO E PROFISSIONAL DA DIDÁTICA HOJE: ENTRE ÍTACA E O CANTO DAS SEREIAS”


Síntese apresentada a disciplina Tópicoa Especiais sobre Trabalho Docente e Didática do Programa de Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba – UNIUBE, sobre o texto “O campo teórico e profissional da didática hoje: entre Ítaca e o canto das sereias” de José Carlos Libâneo.

Prof. Dr. Orlando Fernández Aquino

Por Djalma Gonçalves Pereira


Introdução

Na Odisséia de Homero, Ulisses representa a necessidade de focar seus objetivos e não permitir que ruídos externos afetem o itinerário necessário a essa busca.
Com o tema “Trajetórias e memória de constituição do campo da didática” Libâneo pretende investigar seja no âmbito histórico ou educacional a legitimidade epistemológica as críticas na filosofia e na sociologia da educação, recolocando a didática como instrumento investigativo válido para este fim.
Libâneo conjectura então que pretende demonstrar que ruídos externos teimam em interferir na fidelidade da leitura da didática em sua avaliação objetiva e a definição de seu objeto.
O autor usa para isso uma alusão aos ruídos a interferência de outros campos científicos e ao canto das Sereias que seduziam Ulisses em sua Odisséia.
Para situar o problema Libâneo enfatiza a duvida de que a didática estaria perdendo seu espaço e objeto de estudo que é a mediação do saber para o aluno através do professor.
Ele sugere que por meio de interferências que procuram definir didática como currículo, formação de professores, didáticas específicas e psicopedagogia o objeto central da didática está sendo substituído e esquecido.

Didática

A didática vem se consolidando no como campo científico no Brasil desde o início dos anos 80 e tem claramente definida sua identidade epistemológica, tendo como objetivo o estudo dos processos de ensino e aprendizagem referentes ao ensino de conteúdos específicos, em situações sociais concretas.
A intervenção docente, bem como métodos e procedimentos adequados a cada matéria é objeto de estudo da ciência didática.
Vários autores dentre eles CANDAU, 1984, OLIVEIRA, 1997, PIMENTA, 1996, o próprio LIBÂNEO, 1996 e recentemente D´AVILA com YVES LENOIR, investem na definição de didática e sua relação com a aprendizagem, em sua mediação definem “aquele que liga o sujeito aprendiz ao objeto de conhecimento, chamado de mediação cognitiva, e aquele que liga o formador professor a esta relação, chamado de mediação didática”.
Sendo assim, a mediação cognitiva é o processo de aprendizagem, objetivando o real que se dá na relação sujeito e objeto, em um contexto espaço-temporal determinado.
Já a mediação didática estabelece as condições ideiais para ativar o processo de aprendizagem.
Outros pensadores da educação validam em seus trabalhos este posicionamento de Lenoir e D´Avila, como por exemplo Vygotsky, Klingberg e Lompscher, 1999, que afirma na tradição da teoria didática, histórico-cultural, para quem a didática visa a promover a atividade de aprendizagem, tornando o ensino efetivo ao assegurar condições e modos de viabilizar o processo de conhecimento pelo aluno.
Os conflitos teóricos e ideológicos colocam a didática em uma situação delicada, onde deve assumir sua especificidade retomando seu objetivo próprio, sendo a aprendizagem e o ensino seu foco, retomando seu lugar primordial na formação do professor, ou assumir fragmentos dispersos deixados pelos ruídos externos e voltar-se para o desenvolvimento humano dos alunos, refletindo conflitos sociais, políticos, culturais e epistemológicos inseridos na educação Brasileira que fazem da mesma um campo de impasses incertezas e indefinições.

Hipóteses

Algumas hipóteses são levantadas por Libâneo para embasar sua tese, inicialmente questionando quais são os fatores que tem levado a didática pra longe de seu objeto?
Qual o motivo de os programas em didática não privilegiarem os temas que realmente levariam os professores a aturem no processo de aprendizagem dos alunos?
Como a política ganha espaço no discurso dos professores que minimizam os problemas técnicos de natureza educacional.
Qual o motivo que leva a literatura dita especializada a ignorar as questões base da sala de aula e da aprendizagem?
Libâneo argumento elencando fatores diversos como possíveis explicações para estas perguntas, dentre eles a tendência de situar a sociologia em temas pedagógicos, prejudicando a própria ciência da pedagogia diretamente, discursos pós-estruturalistas, o discurso neoliberal juntamente com políticas sociais de mesma origem interferindo nas políticas e práticas educacionais, enfraquecimento da didática como ciência, sistemas de formação que desprivilegiam o ensino como formação e valorizam a formação técnica profissional.
O movimento dos pioneiros da nova educação no Brasil apregoava a aplicação da sociologia (sociologização) na educação acentuando a produção intelectual da sociologia crítica da educação, vinda de países da Europa e Estados Unidos.
A expressão sociologização é usada para classificar a análise sociológica e determinações sociais sobre a instituição escolar e os processos pedagógicos-didáticos.
Pereira, 1962, analisa o papel da sociologia na pesquisa do conhecimento de maneira empírica indo contra a uma pedagogia abstrata e prescritiva, levando a sociologia a um patamar importante no pensamento educacional brasileiro.
Com a influência da sociologia surgem nos últimos 30 anos varias vertentes vindas do Brasil e do exterior.
São elas, a sociologia marxista, o reprodutivismo, sociologia educacional freireana, a teoria curricular crítica, a sociologia educacional francesa, a sociologia do trabalho docente e a sociologia educacional de inspiração neoliberal.
Libâneo define destacar algumas delas para esclarecer seu pensamento.
No caso da sociologia marxista e as teorias reprodutivas, estas correntes embasam-se no ensino das categorias da divisão social do trabalho e da reprodução das relações sociais de produção, sempre baseado em diferentes focos para sua análise.
Estas correntes influenciaram fortemente a educação na década de 70 e 80 por acreditar-se atender as necessidades de um momento de abertura política, formulando modelos de análise teórica.
Uma das influências que mais fortes nesse período nos cursos de formação de professores foi a crítica a divisão social e a técnica do trabalho capitalista, base de um sistema de desigualdade social seccionando trabalhadores de gestores.
Está visão fragmenta o trabalho pedagógico e desqualifica o professor como profissional.
A formação da consciência social política para ser interrompida como processo de desqualificação do profissional da educação precisa ser invertida de modo a romper os fragmentos oferecendo habilitações profissionais de pedagogos-especialistas e de professores com autonomia profissional.
Com a penetração dos modelos de análise crítica nas universidades e nas associações sindicais e científicas houve um empobrecimento das escolas e consequentemente no trabalho dos professores.
As pesquisas foram voltadas então para aprendizagens relacionadas com o desenvolvimento humano, ampliando o distanciamento da formação concreta do ensino e aprendizagem a qual deveria ser a verdadeira razão do ensino.
Por sua vez a teoria curricular crítica afasta-se propositalmente das questões clássicas da aprendizagem dispensando os processos de formação cognitiva, inibindo a didática.
A corrente da sociologia do trabalho docente estuda a atividade profissional docente como fonte teórica e investigativa para uma nova disciplina, a “formação de professores”.
Tardiff e Lessard afirmam que essa corrente trata da dedicação do professor a seuobjeto de trabalho que é um outro ser humano. Para eles “A docência é um trabalho cujo objeto não é constituído de matéria inerte ou de símbolos, mas de relações humanas” (Ib., p.35).
Essa concepção levou vários cursos de formação de professores a substituírem a didática pela “formação de professores” que estuda identidade profissional,       condições e recursos de trabalho, saber experiencial do professor, formas de organização escolar, etc, exceto a didática.
Para Libâneo o objeto de trabalho da atividade docente baseado na concepção clássica de didática não é a interação, mas sim a mediação da atividade do aluno. O estudo da atividade docente é importante sim para a formação do professor, mas não pode substituir a didática.
O pensamento pós-estruturalista baseado em Foucault, Derrida e Deleuze, a partir dos anos 90 é fonte de pesquisa para currículo, pois pretende estudar temas ligados a ideologias, poder, linguagem sem existir narrativas certas ou erradas, pois as narrativas dependem da posição dos emissores, por isso nunca são fixas.
Este pensamento pós-estruturalista tem em sua orientação teórica sustentada por seus autores uma forma de ridicularização dos professores que se comprometem com a missão de formar sujeitos conscientes, críticos e autônomos, pois rejeitam a idéia de que o conhecimento possa ser fonte de liberação, esclarecimento e autonomia, eles afirmam que a atuação da educação deveria centrar-se nas diferenças produzindo assim significados sociais. Estas ideias geram novos arranjamentos curriculares.
O currículo pós-disciplinar, escreve Corazza, tem como critério para a seleção de saberes a análise de problemas sociais e políticos para a construção e desconstrução de identidades em todo e qualquer espaço de subjetivação do ser humano. Desse modo, o currículo visa a formar analistas críticos das culturas para preparar intelectuais públicos (p.109).
As orientações econômicas e políticas do neoliberalismo destinadas as reformas na América Latina tem a educação como fator de desenvolvimento eonomico e por isso exerce um forte impacto sobre a educação, procurando aumentar a produtividade escolar interfere em quarto pontos principais da mesma, são eles: currículo, gestão,  formação de professores e avaliação.
Segundo Saviani, na teoria neoliberal, são realçadas as competências individuais para que as pessoas consigam melhores posições no mercado de trabalho. Em decorrência disso, afirma que a educação é vista como investimento em capital humano que habilita os indivíduos para a competição.
Libâneo destaca que os fatores citados anteriormente enfraquecem e esvaziam a pedagogia e a didática especialmente em seu campo investigativo.
Vários autores examinam esse esvaziamento, dente eles o próprio Libâneo, 1998, 2003; Libâneo, Piementa e Franco, 2007; Franco, 2003, todos procurando destacar esses vários momentos de esvaziamento.

Conclusões

Seus estudos apresentam que primeiramente o esvaziamento acontece nos currículos, com a redução do espaço da didática e o aumento do caráter tecnicista, depois veio a eliminação da formação pedagógica específica para especialistas, procurando remover das escolas os coordenadores pedagógicos e os orientadores educacionais. Depois vem o esvaziamento dos cursos de pedagogia, tornando-os licenciaturas sem a manifestação contrária dos dos pedagogos que assistem a tudo inertes.
São muitos os professores de outras áreas que classificam a didática e a pedagogia como perfumaria, ou algo inexpressivo na formação do professor e em sua mediação com os alunos.
Libâneo sugere que os pedagogos verdadeiros ainda existentes façam um exame de consciência e assumindo a culpa por se calarem perante a interferência de outras áreas na sua própria.
O autor também assume que existe uma real dificuldade em definir um rumo que atenda todas as determinações, tendências, interesses, políticas e necessidades para a educação e formação de professores, além de destacar que não é opositor as idéias de nenhuma das tendências apresentadas e discutidas em seu texto, mas que a crítica é necessária para que uma postura sociopolítica não traga uma educação pluridimensional sem uma análise pedagógica.
Chegamos então as conclusões do autor que destaca este momento como a descoberta de pistas que orientam o caminho para o processo de formação desejada em alusão ao caminho para se chegar a Ítaca.
Libâneo enfatiza que as hipóteses apresentadas justificam o motivo pelo qual a pedagogia e a didática vem perdendo sua identidade através dos tempos e tendo ruídos externos como meio para tal. São ciências externas interferindo no processo e gerando questionamentos que estão ocupando o espaço daquilo que deveria ser o centro de estudo para a educação.
São muitos os professores de didática que insistem em simplificar a disciplina tornando-a extremamente instrumental e sem profundidade.
Libâneo recorrentemente insiste em tentar compreender as concepções de escola e ensino hoje.
Em sua definição Libâneo entende que a aprendizagem escolar está centrada no conhecimento, no domínio dos saberes e instrumentos culturais disponíveis na sociedade e nos modos de pensar associados a esses saberes. Ou seja, a escola existe para que os alunos aprendam conceitos, teorias; desenvolvam capacidades e habilidades de pensamento; formem atitudes e valores e se realizem como pessoas e profissionais-cidadãos.
Por outro lado as ações educativas propostas atualmente têm como base não a formação cultural e científica, mas as vivências socioculturais, o cultivo da diversidade e da diferença nas relações professor-aluno e naquelas emergentes nos contextos particulares de vida dos alunos. Essa posição estaria mais focada nos aspectos socioculturais de organização escolar como o cotidiano, a diferença, as virtudes sociais, pouco ou nada interessada nos elementos psicodidáticos, colocando os conteúdos culturais numa posição secundarizada. em oposição ao específico da escola, o conhecimento.
Então, que caminhos a didática deveria trilhar para fortalecer e enriquecer seu objeto de estudo e assim revigorar seu campo profissional?
A resposta em geral é esta: manter o discurso moderno de centrar a escola e o ensino no conhecimento e no desenvolvimento cognitivo dos alunos e, vos do seu objeto (socioculturais, antropológicos, comunicacionais, midiáticos), por meio de novos procedimentos investigativos e da interdisciplinaridade.
Libâneo então conclui com seu parecer pessoal onde descreve como saudável a disputa entre os diversos campos científicos bem como suas divergências, mas espera que pesquisadores de diversas ciências procurem um olhar amplo que aumente a percepção das dimensões necessárias para a formulação de projetos educativos.

Referências

LIBÂNEO, José Carlos. O campo teórico e profissional da didática hoje: entre Ítaca e o canto das sereias.

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