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sexta-feira, 29 de abril de 2011

SÍNTESE DAS CONCEPÇÕES DE J. C. LIBÂNEO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE EPISTEMOLOGIA E DIDÁTICA E A TEORIA DO CONHECIMENTO BASE PARA O ENSINO E MODELO DE RACIOCÍNIO E AÇÃO PEDAGÓGICA DE L. S. SCHULMAN


Síntese apresentada a disciplina Tópicoa Especiais sobre Trabalho Docente e Didática do Programa de Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba – UNIUBE, Síntese das concepções de J. C. Libâneo sobre as relações entre epistemologia e didática e a teoria do conhecimento base para o ensino e modelo de raciocínio e ação pedagógica de L. S. Schulman.

Prof. Dr. Orlando Fernández Aquino

Por Djalma Gonçalves Pereira


Introdução

Para realizar esta síntese do pensamento de Libâneo e Schulman acredito ser necessário nos situarmos no conceito norteador dessa discussão a fim de compreendermos melhor seus aspectos e pensamentos.
Epistemologia - Trata-se do estudo crítico e histórico dos princípios, hipóteses e resultados das diversas ciências, sendo que, no ensino escolar, talvez fosse apropriado falar em epistemologia aplicada, ou seja, o processo de construção de conceitos, a determinação de seu nível de formulação, os obstáculos epistemológicos.

Nesta síntese percebe-se a investigação pedagógica voltada aos problemas didáticos, dedicando-se com mais afinco ao estudo das possibilidades teóricas e práticas de integração entre a didática e as didáticas dos saberes específicos, privilegiando modalidades de pesquisa que envolvam o aprendizado na sala de aula.
Sendo os elementos principais da didática as relações entre o ensino prestado, a interiorização de conteúdos e modos de agir e as aprendizagens efetivadas.
A grande maioria dos professores associa didática com os dispositivos e procedimentos de ensino, isso é um erro comum, mas a didática na realidade assume-se como disciplina que estuda as relações entre ensino e aprendizagem.
A didática ocupa-se, portanto, dos saberes referentes à aprendizagem e ensino em conexão direta com as peculiaridades da aprendizagem e ensino das disciplinas escolares, o ente didático compreende o conteúdo, a aprendizagem e o ensino tratando-se da formação humana.
Nesse sentido devemos procurar reconhecer as fonte do conhecimento base necessária para essa ação.

O duplo caráter da didática

A didática generaliza as leis da aprendizagem transformando-as em princípios didáticos comuns para o ensino das disciplinas específicas, a didática somente faz sentido se estiver conectada à lógica científica da disciplina que é ensinada, sendo assim, estuda o processo de ensino que consiste nos modos e condições de assegurar aos alunos a interiorização, pelo processo de comunicação, dos conhecimentos sistematizados e o desenvolvimento de suas capacidades mentais.
O papel da didática é ajudar os alunos a pensar, a dominar o conteúdo levando em conta a atividade psicológica, considerando o contexto histórico-cultural, analisando o conteúdo, promovendo a dedução de determinadas relações que se manifestam em outras relações particulares, investindo no domínio de modo geral, pelo qual o objeto é constituído através da análise da atividade psicológica.
Devemos lembrar que a didática crítica surgiu no Brasil no início dos anos 80 e levou os professores a veicularem o ensino às realidades sociais, esquecendo-se de que toda didática supõe uma epistemologia.
Sendo assim o núcleo do problema didático é o conhecimento!
            E qual seria esse conhecimento base para essa didática?
            Estaria esse conhecimento na formação acadêmica do professor, nas estruturas de materiais didáticos, na literatura educativa especializada ou ainda na prática do professor?

Saberes dos professores

Toda atividade de ensino requer um conjunto de saberes e práticas, tais como os conteúdos das diversas áreas de conhecimento, os métodos investigativos da ciência ensinada e os saberes pedagógicos próprios da profissão, os quais constituem o domínio teórico e prático da didática.
Não faz sentido falar em formação de professores sem considerar que o ensino depende de mediações que favorecem a apropriação do saber por parte do aluno.
A formação do professor é uma prática educativa e portanto deve priorizar a educação.
Há professores formadores dos cursos de licenciaturas que afirmam que para ensinar química, história, matemática, basta saber conteúdo dessas disciplinas, o resto é invenção de pedagogo.
Esses desencontros entre docentes formadores que atuam na formação de professores resultam na situação já bastante conhecida nas instituições formadoras: a autonomização e a separação entre o conteúdo da didática e o das didáticas específicas.
A idéia do ensino com pesquisa é a de que o professor faça pesquisa enquanto ensina, presente na noção de ensino como “experimentação formativa”, em que o professor intervém ativamente por meio de tarefas nos processos mentais das crianças e produz novas formações por meio dessa intervenção.
O papel do professor será de ajudar o aluno a interiorizar os modos de pensar, de raciocinar, de investigar e de atuar da ciência ensinada.
O professor precisa conhecer profundamente os conceitos centrais e leis gerais da disciplina, proceder a uma análise do conteúdo a ser ensinado, avançar das leis gerais para a realidade circundante, saber escolher exemplos concretos e atividades práticas, iniciar o estudo do assunto pela investigação concreta e criação de novos problemas.
            Nessa discussão o conhecimento do conteúdo, o conhecimento da didática geral, do currículo, o conhecimento didático do conteúdo, dos alunos, do contexto social e econômico e principalmente das finalidades do ensino, determinaram os princípios norteadores da formação desse professor.
Ensino

Segundo Vigotsky, a teoria histórico-cultural mostra que educar é intervir na capacidade de ser e de agir das pessoas, pelas mediações culturais.
Ensinar não é apenas transmitir matéria, é um assunto pedagógico e, também, psicológico e ético, voltado para a formação da personalidade.
O processo educativo se viabiliza, portanto, como prática social precisamente por ser dirigido pedagogicamente. (Libâneo, 2005, p.34) o caráter intencional do ensino significa que o professor trabalha em função de objetivos sociais e políticos, mas também que atinge a subjetividade dos alunos, de modo que ele precisa mobilizá-los para aprender, cuidar das formas de relacionamento que estabelece com eles, conhecer seu comportamento e suas práticas de vida fora da escola, saber como funciona sua mente, seus desejos.
Sendo o ensino o objeto de estudo da didática e das didáticas específicas; a partir da especificidade de cada uma, há uma integração e uma interdependência entre as duas disciplinas, uma complementando a outra.
Em resumo, o ensino mais compatível com o mundo da ciência, da tecnologia, dos meios de comunicação, e ao mesmo tempo comprometido com as mediações culturais, é aquele que promove o desenvolvimento mental, por meio dos conteúdos e do desenvolvimento das capacidades e habilidades do pensar com autonomia, que ajuda o aluno a desenvolver suas capacidades próprias de raciocínio.
Ensinar é ajudar o aluno a captar o caminho do pensamento científico e dos processos de investigação da ciência ensinada.
Ensino é reflexão, análise da matéria, interiorização dos conceitos.
Para compreender o problema pedagógico das mediações entre o sujeito e o saber, a pedagogia não é suficiente, é preciso saber o percurso de construção pela humanidade dos saberes específicos, e associá-los a aprendizagem.
            A ação pedagógica precisa prever de que forma o aluno poderá compreender e transformar aquilo que se ensina, para que tenha condições de avaliar, refletir e reconstruir as informações tornando-se assim construtor de seu próprio conhecimento.

Aprendizagem e Processo ensino-aprendizagem

Não se deve esquecer que aprender é desenvolver capacidades cognitivas, pois a atividade de ensino é uma atividade humana e pode-se mencionar a ênfase nas práticas socioculturais na escola em contraponto com a ênfase nas práticas pedagógicas, ou vice-versa.
É preciso saber como se dá o processo de apropriação de conhecimentos, e esta é uma questão eminentemente epistemológica.
Se aprender é desenvolver habilidades cognitivas então o sujeito deve ter um papel ativo na sua aprendizagem, desenvolvendo assim as competências do pensar.
O ensino mais compatível com o pensamento teórico é aquele que articula dois processos numa mesma ação, a apropriação dos conteúdos e o domínio de capacidades intelectuais, sento o papel da escola é ajudar o aluno a desenvolver suas capacidades mentais, ao mesmo tempo em que se apropriam dos conteúdos.
           

Didática x Didática específica

A didática não pode formular seu objeto de estudo sem a consideração dos conteúdos e métodos da ciência (como também das artes) a serem ensinadas, assim como as didáticas específicas não podem cumprir suas tarefas na formação de professores sem os princípios de aprendizagem e ensino comuns a todas as disciplinas presentes na didática.
Os professores das didáticas específicas dizem: os pedagogos não têm nada a fazer, pois sem conhecer os conteúdos específicos das matérias nada podem dizer sobre o ensino dessa matéria.
Já os professores de didática dirão: não é possível alguém ensinar uma matéria desconhecendo as características individuais e sociais do aluno, o contexto social e cultural em que vive os critérios de seleção e organização dos conteúdos, o papel do ensino na formação da personalidade, as condições mais adequadas de aprendizagem, etc.
Durante muito tempo permaneceu a concepção de uma didática válida igualmente para todas as disciplinas, expressada na teoria dos passos formais do ensino de Herbart.
A oposição à orientação anterior, há a tendência de consolidação das metodologias específicas, com a recusa da didática geral, resultando na desatenção ao fundamento pedagógico-didático dos problemas do ensino.
Consiste na busca da unidade entre uma teoria geral do ensino e as metodologias específicas, que estaria caracterizando o momento atual.
Ambas, as formas de ensinar dependem das formas de aprender, ambos atribuem uma intencionalidade formativa ao ensinar, sendo assim a didática e as didáticas específicas tem a mesma tarefa a de propocionar uma experiência social em toda sua multilateralidade e complexidade se transforma em conhecimentos, habilidades e hábitos do educando em idéias e qualidades do homem em formação, em seu desenvolvimento intelectual, ideológico e cultura geral. (Davídov, 1984, p.26)
Os didatas franceses ou didatas das disciplias, consideram a didática como o estudo dos processos de ensino e aprendizagem em sua relação imediata com os conteúdos dos saberes a ensinar, a organização das situações didáticas e das disciplinas.
Se o núcleo da didática é o conhecimento científico dos processos de transmissão e apropriação de conhecimentos de um conteúdo disciplinar, é impossível desvinculá-la da epistemologia.

Didática x Epistemologia

A relação entre didática e a epistemologia dos saberes específicos vem sendo enriquecida com a contribuição da teoria do ensino desenvolvimental de Vasili Davídov, dentro da teoria histórico-cultural. Para Davídov a atividade de aprendizagem na escola está ligada à formação do pensamento teórico do aluno desenvolvido com base nos conceitos teóricos das disciplinas escolares e mediante o domínio de capacidades e habilidades de aprendizagem independente.
O pedagógico está sempre associado ao epistemológico pois não basta aprender o que aconteceu na história, é preciso pensar históricamente, pensar matemáticamente, sobre a matemática, biologicamente sobre a biologia, linguisticamente sobre o português, e assim por diante.
É necessária a integração entre didática e a epistemologia, no sentido de conceber o conteúdo da didática em correspondência com a epistemologia do conhecimento científico.


Obstáculo epistemológico

A utilização de obstáculos cria situações de aprendizagem onde o obstáculo está associado inicialmente com algo negativo, mas a caracterização de obstáculos é um modo de seleção de objetivos, tendo a superação dos obstáculos pelos objetivos como os verdadeiros objetivos conceituais.
O professor deve traduzir os conteúdos de aprendizagem em procedimentos de aprendiagem e o obstáculo epistemológico de Bachelard geralmente impregnados do conhecimeno de senso comum, incidem no eu epistêmico do aluno, que o ajudam ou impedem de compreender um conceito ou uma teoria.
Aprender é apropriar-se de um saber, aprender é uma relação entre duas atividades, considerar a atividade humana anterior de produção sociocultural desses saberes, relacionando com o mundo com o outro e consigo.
A verdade resulta de uma rejeição sucessiva de erros como caminho na construção do conhecimento proporcionando o domínio conceitual e racionalidade específica.
O aparente é sempre fonte de enganos, é essencialmente a partir do rompimento com esse conhecimento comum que se constitui o conhecimento científico.
Segundo Bachelard, aprender é modificar nosso modo habitual de pensar.


Conclusão

Não há separação possível entre os campos da didática e das didáticas específicas, ambos buscam objetivos de formação da personalidade.
A organização pedagógico-didática dos conteúdos pressupõe a análise epistemológica.
Didática provenientes da pedagogia, pouco ajudarão seus alunos se continuarem reduzindo a didática a uma coleção de normas, prescritas técnicas.
Didáticas específicas precisam compreender que ensinar não é meramente transmitir a matéria.
Implicações filosóficas e epistemológicas dos processos internos de aprendizagem e desenvolvimento humano, associados a processos investigativos, saberes pedagógicos específicos, junto a critérios de seleção a organização de conteúdos dão a dimensão ética.
Para Libâneo fica claro que a Pedagogia precisa voltar a ocupar seu lugar como centro de referencia cientifica para todo o processo educacional e que aplicada ao conhecimento a pedagogia determina todo o processo de ensino-aprendizagem que são necessários ao desenvolvimento integral do conhecimento e personalidade do aluno.
Neste processo a didática permeia o trabalho com as metodologias específicas e buscando sua epistemologia dá ao professor ferramentas para a estruturação e mediação didática necessárias para o ensino desenvolvimental de Dvidov.
Aos alunos, sendo expostos aos obstáculos epistemológicos serão estimulados a interferir em na apropriação de seu conteúdo através da mediaçãocognitiva, tomando como resultado a aprendizagem.
Todo esse ciclo de ações e pensamentos bem definidos por Libâneo caracterizam seu pensamento e intenções para com a educação.
Para Schulman epistemologia, didática e conhecimento são a base para um modelo de raciocínio pedagógico que a partir dessas fontes do conhecimento desenrolam a formação acadêmica, os materiais didáticos, a literatura especializada e a prática com sabedoria. Todo esse conjunto é a concepção de conhecimento base de Schulman para definir as categorias do conhecimento.
Essas categorias tornam a formação do professor eficaz para o ensino, levando o professor a transformar a educação em um modelo de ações de compreensão, transformação, ensino, avaliação, reflexão e recomeço.
Em comum a Libâneo e Schulman temos que as fontes do conhecimento de Schulman estão em harmonia com o conceito de pedagogia e conhecimento de Libâneo, além de podermos associar a teoria do conhecimento base de Schulman com a do processo ensino-aprendizagem de Libâneo, tendo a discussão de didática específica e geral dentro das categorias e mediações de ambos, sempre com o único fim que é a transformação do ser humano pela educação.


Referências

LIBÂNEO, José Carlos. Concepções sobre as relações entre Epistemologia e Didática.

SCHULMAN, L. S. Teoria do conhecimento base para o ensino e modelo de raciocínio e ação pedagógica.

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