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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Síntese do artigo: As abordagens da didática nos cursos de formação de professores: o caso da Universidade Federal de Mato Grosso

Síntese do artigo:
As abordagens da didática nos cursos de formação de professores: o caso da Universidade Federal de Mato Grosso


Nilza de Oliveira Sguarezi – UFMT

Por Djalma Gonçalves Pereira

Trabalho integrante do painel apresentado no XV ENDIPE na UFMG, com foco em uma temática que não é nova, visto que a reformulação dos currículos dos cursos de licenciatura vem sendo discutidas a tempo, gerando embates como a questão de qual a importância da disciplina Didática na formação de professores para a educação básica.
O foco da pesquisa baseia-se nas abordagens da Didática no contexto da reformulação dos projetos pedagógicos dos cursos de licenciaturas da UFMT, onde dados foram coletados em todos seus campi.
O artigo estudado nesta síntese está dividido em três partes, sendo a primeira a apresentação da situação da didática nos cursos de formação de professores da UFMT, posteriormente apresentaram considerações sobre os dados apresentados e por fim faz considerações à forma como a Didática se apresenta nos cursos de formação de professores.
A investigação acerca da abordagem da Didática nos cursos de licenciatura oferecidos pela UFMT, buscando averiguar a situação da mesma no ano de 2009, começando pelo campus Cuiabá analisando as ementas e os dados adquiridos com os coordenadores dos cursos.
Os demais campus foram averiguados através de correspondências enviadas aos mesmos destinadas aos coordenadores.
Os pontos relevantes tomados para a investigação foram:
Como está situada a disciplina de didática nos diferentes cursos de Licenciatura da UFMT?
As ementas são as mesmas?
Quais os conteúdos propostos na área?

Como ponto de partida o trabalho estruturou o funcionamento da didática nos 14 cursos ofertados pela UFMT, sendo 1 dos quatorze na modalidade a distância.
Dentre eles, Pedagogia com habilitação em magistério e para anos iniciais do ensino médio fundamental nas modalidades presencial e para educação infantil na modalidade a distância.
Verificou-se que a didática é abordada nos cursos de diferentes formas, trabalhando em duas etapas, onde a primeira trata a didática de uma forma mais geral e a segunda trata a didática em formato de didática específica, sendo esta tratada por diferentes denominações, como, Didática para o ensino, instrumentação para o ensino, prática de ensino, dentre outros.
Percebeu-se que as disciplinas de didática específica ficam a cargo dos professores de didática e as disciplinas de didática especifica fiam a cargo dos professores das áreas, recebendo designações tais como instrumentação para o ensino da Química, Didática para o ensino da Geografia, didática para o ensino da Matemática, todas antecipando a prática de ensino.
Temos uma exceção nessa prática nos cursos de Pedagogia, onde as disciplinas de Didática I e Didática II ficam a cargo dos professores pedagogos.
Foi verificado também que em algum cursos a didática somente é abordada em caráter específico, ficando a cargo dos professores das áreas específicas, constatou-se ainda que nesses casos a carga horária destinada a Didática recebeu uma redução de 50%.
Na opinião da autora esta posição explicita uma perspectiva de apropriação dos saberes científicos das áreas de formação suficientes para o exercício da docência. Sendo assim, a autora busca suporte em Maldaner e Schnetzler (1998, p. 199) que afirmam:
Os professores universitários, ligados aos departamentos e institutos das chamadas ciências exatas, mantêm, de alguma forma, a atual convicção de que basta uma boa formação científica básica para preparar bons professores para o ensino fundamental e médio, enquanto os professores de formação pedagógica percebem a falta de uma visão clara e mais consistente dos conteúdos específicos, por parte dos licenciados em fase final de sua formação, impedindo a sua reelaboração pedagógica para torná-los disponíveis e adequados à aprendizagem de jovens e adolescentes. Ou seja, o ensino de disciplinas de psicologia, sociologia, metodologia, didática,legislação e práticas pedagógicas, não se “encaixam” sobre aquela “base científica” construída na outra instância acadêmica. É essa separação que impede que se pensem os cursos de formação de professores como um todo.
Foi detectado ainda cursos na modalidade a distância onde a disciplina de Didática é ausente, sendo diluída em disciplinas específicas como Fundamentos e Conteúdos da Linguagem, da Matemática, da História, da Geografia, ou como na Pedagogia a distância onde são trabalhadas disciplinas denominadas Projetos de Ensino e Trabalho Pedagógico na Educação Infantil.
Os dados coletados apresentam que o conhecimento didático é minimizado pelos professores das licenciaturas, dessa forma, a autora recorre a Candau (2008, p.13) que justifica sua posição quando postula que “[...] todo processo de formação de educadores, especialistas e professores, inclui necessariamente componentes curriculares orientados para o tratamento sistemático do “que fazer” educativo, da prática pedagógica. Entre estes, a didática ocupa um lugar de destaque.” Baseado nesse prisma a autora defende que a situação em discussão traduz posições políticas acerca dos projetos de formação de professores para a Educação básica, talvez a sua intencionalidade mesmo.
Outra situação encontrada foi a da aplicação de seminários de educação como forma de estudo da Didática.
Há também nos dados, caos em que não se adota nenhuma disciplina com a denominação de didática, como é o caso do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza e Matemática, onde as atividades relacionadas com a didática geral e das Ciências, metodologias investigativas que estão dispersas no conjunto das temáticas relacionadas com dois componentes curriculares: seminários de práticas educativas como instrumentalização para, e na prática pedagógica, e processos relacionados com estágio supervisionado, revelam que a Didática vem se tornando, gradativamente, dispensável nos cursos de formação de professores, ainda que seu objetivo de estudo seja, precisamente, o ensino, que é a atividade dos professores.
Avaliando as ementas da disciplina de Didática nos cursos de Matemática, Física, Química, Letras, Música, Geografia, Biologia e Pedagogia, os dados revelaram que há uma variedade de enfoques no tratamento da Didática.
As ementas traduzem que por vezes a disciplina é abordada em uma perspectiva geral de contextualização da área, situando o papel da formação do professor abordando fundamentos e práticas pedagógicas relacionados às formas organizativas de ensino, junto as questões referentes ao planejamento, dentre outras questões.
Outras vezes abrange aspectos bem específicos do ensino das áreas específicas tais como abordagens do ensino da disciplina norteadora do curso.
De maneira preliminar, depois deste levantamento a autora aponta para uma diversidade de concepções acerca da Didática a fundamentar a elaboração dos diferentes projetos de cursos de licenciatura da UFMT.
Baseado neste quadro apresentado anteriormente a autora questiona que a Didática nos cursos de formação de professores da UFMT, levando-a a indagar como essa área está sendo abordada nos cursos de licenciaturas das demais instituições de ensino superior do Centro-Oeste.
A autora afirma que é necessário criar condições de transformar esse quadro de desprestígio da Didática nos cursos de licenciatura, reconquistando assim seu estatuto científico, substituindo o caráter instrumental e metodológico dado a ela nos dias atuais.
Afirma ainda que é necessário dar inicio a um trabalho de superação do quadro atual da Didática empreendendo esforços para restituir a Didática em seu papel mediador entre o conhecimento técnico-científico e o teórico-prático que são inerentes ao trabalho do professor, explicitando assim, os elementos teóricos didáticos indispensáveis a prática pedagógica na sala da aula.
A autora conclui que é tarefa imprescindível assumir verdadeiramente a decisão de resgatar o papel da Didática nos cursos de licenciatura, caso nosso objetivo seja formar professores autônomos, autores de suas práticas pedagógicas.
Do ponto de vista da pedagoga e professora de Didática Nilza de Oliveira Sguarezi, a necessida de se criar condições para que o conhecimento didático possa ocupar um lugar central na formação, inicial e continuada, dos professores. Reconhecê-la como um ramo da Pedagogia, como uma ciência autônoma, cujo objetivo de estudo é o ensino, não um ensino qualquer, mas o ensino em contexto.
Para apoiar sua crítica a autora apóia-se em Candau (2008).
Reiteramos que a Didática é imprescindível na formação de professores, uma vez que possui um corpo de conhecimentos próprios, que não é nem pode ser importado de outras áreas do conhecimento, embora mantenha uma relação com outras áreas, pois, o papel da Didática na formação dos educadores não está, para muitos, adequadamente definido, o que gera indefinição do seu próprio conteúdo. Alguns têm a sensação de que, ao tentar superar uma visão meramente instrumental da Didática, esta se limita a suplementares conhecimentos da Filosofia, Sociologia, Psicologia, etc. , passando a ser “invadida” por diferentes campos do conhecimento e perdendo especificidade própria. Outros consideram que a Didática deve ser entendida como um “elo de tradução” dos conhecimentos produzidos pelas disciplinas da área de fundamentos da educação e a prática pedagógica. Trata-se de conhecimento de mediação, sendo, portanto importante que se baseie nas diferentes disciplinas da área de fundamentos; sua especificidade é garantida pela preocupação com a compreensão do processo de ensino e de aprendizagem e a busca de formas de intervenção pedagógica (CANDAU, 2008 p. 121).
Sendo assim, o objeto da Didática é a prática pedagógica, o “como fazer”, mas este só tem sentido quando articulamos ao “para que fazer” e ao “porque fazer”.
O domínio de conhecimentos de uma determinada disciplina é condição importantíssima na formação docente, mas não é requisito único!
A autora encerra seu trabalho afirmando que o mesmo deve permanecer inacabado para incentivar reflexões posteriores e propõe que a discussão iniciada prossiga não só no painel do ENDIPE, mas em nossas vidas, sempre pesquisando, estudando e contribuindo para que a Didática avance e contribua significativamente na formação dos professores tornando-se autores de suas práticas pedagógicas.
O texto deixa quatro questionamentos para incentivar a reflexão, são eles:
Será que, em pleno século XXI voltamos a viver um momento em que a Didática está sendo posta em questão, como na década de 70?
Por que a Didática se torna gradativamente dispensável nas licenciaturas (conforme constatado no trabalho apresentado)?
Que concepção de professor fundamenta os cursos de licenciatura?
O domínio de conteúdos específicos daria conta de garantir os aspectos inerentes ao ser professor?

CONCLUSÃO PESSOAL
A pesquisa realizada pela autora é relevante a percepção do esvaziamento da Didática apresentado também por Libâneo e Candau, e justifica o desencontro de conceitos e concepções de didática que ocorre nos cursos de licenciatura pelo Brasil, prejudicando assim a utilização da Pedagogia e da Didática como ciência do saber, tornando-as meras ferramentas dispensáveis.

REFERENCIAS
CANDAU, Vera Maria (Org.) A didática em questão. 28. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MALDANER, O. A.; SCHNETZLER, R. P. A necessária conjugação da pesquisa e do ensino na formação de professores e professoras. In:
CHASSOT, A.; OLIVEIRA, Jr. (Org.). Ciência, ética e cultura na educação. São Leopoldo: Unisinos, 1998.

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